20070611

Assim Falou a Rosa


Anunciava-se então o verão refletindo tons de âmbar, cobre e ouro ante estes olhos infantis. Era eu ainda um frágil botãozinho de rosa e mal sabia do tesouro que o Sol ali encerrava. Eis que aquele fulgor dourado finalmente converteria em nobre forma de vida um simples saber-existir: sim, ele chegou! Descera à Terra o principezinho de cabelos e alma ígneos.
Logo cedo tomou para si a existência como eterna e intensa chama. Cabelos dourados. Mente brilhante. Misterioso relance de beleza e furor poético. A criança queimava por dentro e deixava rastros de admiração entre muita gente grande. Sim! Esse garoto, ainda pequenino, conseguia aplacar os adultos com seu poder de fogo. Era devastador sem ferir, o que lhe atribuía incomum maestria.
Ora genial, ora ensimesmado, precocemente aprendeu a construir sua própria fogueira - para ele, a expressão da pureza e a contemplação da sabedoria se fizeram ricos mananciais em meio ao deserto. Assim, o Pequeno Príncipe crescia no seu mundinho. E ali se fez senhor de si, revolvendo cuidadosamente os vulcõezinhos ("Quem é que pode garantir?") e arrancando regularmente os baobás que lhe ameaçavam atravancar o planeta com suas enormes raízes.
Espinhos e pétalas - que belas pétalas avermelhadas se abriram! Foi numa aurora de outono que, depois de me preparar com tanto esmero, despertei diante do principezinho. As quatro folhinhas modificadas em acúleos, salpicadas pelo meu corpo, eram motivo de mórbida vaidade. Na verdade, tinha medo de revelar minha fragilidade e me escondia no orgulho. Mesmo assim, o príncipe de cabelos de ouro, dia após dia e ao sabor de quaisquer intempéries, me dispensara todos os cuidados necessários.
E ele cativou esta Rosa e esta Rosa o cativou. E o sorriso daquela criança iluminada paulatinamente desarmara aquela perfumada e altiva criatura. Da efemeridade arrogante da Rosa e da simplicidade inocente do Príncipe surgiu o Amor. Amor cultivado. A Rosa embalsamava e embelezava os pores-do-sol do Príncipe e o pequeno dos cabelos dourados enchia de luz a sangüínea flor. Amor completo e perene.
Hoje as estrelas são floridas quando fito o céu. Meu Príncipe, eternamente pequeno, sorri para mim com doçura. Ouço seu riso, vejo seus olhinhos brilhando através daqueles tão misteriosos diamantes no firmamento.
Criança-flor e criança-Sol: imortais. Rubra é a pureza desse encantador fogo.

Imagem: Cortesia de João Paulo Tiago, grande amigo! Muit'obrigada, querido John!
http://joapa.deviantart.com/

2 na trincheira.

RMariani disse...

Mensagem da rosa enfim decifrada...

Olivia disse...

acabei de notar que voce tem as tres marias no rosto.