20080311

O Ausente

O AUSENTE
Diante do Ausente, não sossego a tez
Contemplo o vácuo, contemplo a falta
A falta de seu peito, a falta do compasso
de nossos corações, poeticamente sintonizados.

Diante do Ausente, não sou mais a mesma
Disperso-me na turva névoa, no vazio espaço
que meu coração reclama, atormentado
E desvaneço-me, como consolo, em lágrimas de Amor.

Diante do Ausente, enfim, esmoreço
Esmoreço ante a solidão e a tortura de apenas ser
Ah, meu Amor! Quero-te aqui, ao meu lado!
Vem logo, meu doce camponês!
Meu semblante, sem ti, é lasso
Refeitos em delícias e em mágoas, fomos batizados
pelo sangue, pelos prazeres e pela dor.

Toquemos, com coragem, pra fora de nossa casa,
a tristeza que o Poeta disse não ter fim.
Diga-me que isso é só o começo, Amormeuzinho!
Eis o início de uma reviravolta, a hora de termos paz!
Tornemo-nos um só! Eis a nossa preciosa vez!

Somente contigo quero a plenitude do viver.

20080303

Suspensa na vacuidade de minha mente...

Suspensa na vacuidade de minha mente
Decanto-me apenas na tua memória, cigano
A valsa de nossos corpos me desvela a carne
E devolve-me tudo aquilo já desacreditado.

Detida em lágrimas torrentes
Vislumbro teus cerúleos olhos, cigano
Torno-me néscia ante teus encantos matreiros
E assim tu me redimes aquela espúria semente.

Ritmada pela potência, pelo pulso fremente
De um ermo qualquer ecôo teu nome, cigano
Então finalmente idealizamos a sinfonia indolor
Tocamos a verdade com um gesto faceiro
E revelamos, com um sopro de vida, o eterno Amor.

Evocação a Cordélia

EVOCAÇÃO A CORDÉLIA
Vai, Cordélia!

Despe-te daquele diáfano vestido
Despoja-te de tuas sandálias
E cobre teus cabelos de amores-perfeitos

Vai, Cordélia!
Eis que por ti espera um doce camponês
Entoa então canções com as gralhas, tão raras,
E baila imersa no primaveril orvalho

Vai, Cordélia!
Entrega-te em tua plena nudez
E corre, corre de encontro ao teu amado
Tu és bela em tua leda pureza

Criança, finalmente tocaste a eternidade.