20141027

Noite de Domingo

Desertificadas ruas. Somente meus leves passos, a chuva e eu. O asfalto enxugava os grotescos rastros de um dia laborioso. Eu não tinha pressa nem medo. Apreciava cada gota d'água e algum raro e furtivo reluz que evidenciava vida. Nas poucas casas acesas, festas. De repente, acelerei o passo e ensaiei uma monótona coreografia. Melancólica. As iluminadas palmeiras eram as minhas únicas guias ante aquelas inebriadas sombras. Pestanas que se elevavam, imponentes, e que acompanhavam o meu perdido olhar. Sozinha, meditava. Alguns homens me assobiavam pela caminhada. - Oras, mulheres não andam sozinhas à noite? - Firme e segura, respirei profundamente. Me sentia diferente. Minha jaqueta, meu vestido, meus saltos... Eu flutuava, finalmente. E a chuva me abençoou com um belo gesto: devolveu-me o sorriso da manhã.

Ninguém na trincheira.