20070617

(Im)pureza

"Confio-me a mim mesma", diz a criança confidente.

Ao Protagonista

É no reflexo âmbar do sol poente que te vejo. Sombras azuladas, róseo firmamento. Nas nuvens sigo os teus silenciosos passos.
Tu és puro, meu amado. Somente tu sacias a minha sede de viver em paz.
A correnteza, fluindo docemente, ainda nos trará surpreendentes alegrias.

Vem, minha criança... Experimenta essa doce sinestesia de tornarmo-
nos um só!

20070611

Assim Falou a Rosa


Anunciava-se então o verão refletindo tons de âmbar, cobre e ouro ante estes olhos infantis. Era eu ainda um frágil botãozinho de rosa e mal sabia do tesouro que o Sol ali encerrava. Eis que aquele fulgor dourado finalmente converteria em nobre forma de vida um simples saber-existir: sim, ele chegou! Descera à Terra o principezinho de cabelos e alma ígneos.
Logo cedo tomou para si a existência como eterna e intensa chama. Cabelos dourados. Mente brilhante. Misterioso relance de beleza e furor poético. A criança queimava por dentro e deixava rastros de admiração entre muita gente grande. Sim! Esse garoto, ainda pequenino, conseguia aplacar os adultos com seu poder de fogo. Era devastador sem ferir, o que lhe atribuía incomum maestria.
Ora genial, ora ensimesmado, precocemente aprendeu a construir sua própria fogueira - para ele, a expressão da pureza e a contemplação da sabedoria se fizeram ricos mananciais em meio ao deserto. Assim, o Pequeno Príncipe crescia no seu mundinho. E ali se fez senhor de si, revolvendo cuidadosamente os vulcõezinhos ("Quem é que pode garantir?") e arrancando regularmente os baobás que lhe ameaçavam atravancar o planeta com suas enormes raízes.
Espinhos e pétalas - que belas pétalas avermelhadas se abriram! Foi numa aurora de outono que, depois de me preparar com tanto esmero, despertei diante do principezinho. As quatro folhinhas modificadas em acúleos, salpicadas pelo meu corpo, eram motivo de mórbida vaidade. Na verdade, tinha medo de revelar minha fragilidade e me escondia no orgulho. Mesmo assim, o príncipe de cabelos de ouro, dia após dia e ao sabor de quaisquer intempéries, me dispensara todos os cuidados necessários.
E ele cativou esta Rosa e esta Rosa o cativou. E o sorriso daquela criança iluminada paulatinamente desarmara aquela perfumada e altiva criatura. Da efemeridade arrogante da Rosa e da simplicidade inocente do Príncipe surgiu o Amor. Amor cultivado. A Rosa embalsamava e embelezava os pores-do-sol do Príncipe e o pequeno dos cabelos dourados enchia de luz a sangüínea flor. Amor completo e perene.
Hoje as estrelas são floridas quando fito o céu. Meu Príncipe, eternamente pequeno, sorri para mim com doçura. Ouço seu riso, vejo seus olhinhos brilhando através daqueles tão misteriosos diamantes no firmamento.
Criança-flor e criança-Sol: imortais. Rubra é a pureza desse encantador fogo.

Imagem: Cortesia de João Paulo Tiago, grande amigo! Muit'obrigada, querido John!
http://joapa.deviantart.com/

20070610

Desaparente ou Desapareça!

"Tenho uma fórmula pra emagrecer até 12Kg NUM MÊS (...) Magra linda... Pra sempre... COMO??? Acesse esse site aí e encontre a resposta!!! Só passo a fórmula pra quem quer mesmo emagrecer (...) Pessoal... É tomar... E secar... É excelente!!! Mesmo!!! http://www.polobrasonline.net/liverjoice."

(Se eu sumir, me reembolsa os "investimentos"? HAHAHAH!)

Entrincheirada

Casa-caserna, quarto-quartel.

Ó, Argonautas...

Orkut = Stultifera Navis.
LAND HO!

Apupos, aplausos!

"THE WAR IS OVER!"

A Rosa e seu Arsenal

Redoma estilhaçada, fuzil sem munição.
"Vae victis!"

20070608

Espectro (In)visível

O Amor inverte a cor do narcisismo.

Radiografia-Colant XP

RADIOGRAFIA-COLANT XP
Vê!
'Eu estômago colado na coluna
'Eu pulmão calejado,
chiando ao calar
'Eu baço - ai dele! - embaçado
Ever-ão, neve, é verão!
Vê!
'Eu quinto olho-vítreo revirado
'Ua cabeça quebrada à beça
'Ua úlcera a agourar,
agora pela garganta
'Eu escarro,
'Ua merda!
Vê?
'Eu sangue que suguei
'Ua dilatada veia vermelha
'Ua energia - goza! - acumulada
Virgem cal
Extinta cal
Fossilizada.

Moradias

MORADIAS
Que posso dizer deste
ciclópico vício?
Abarca todos os desejos
e preenche páginas vazias
Meu coração é todo palavras
Relance de ensejos
em forma de olhares
Curvas macias
Largas enseadas.

Lingüiça (ou a frigideira letrada) [Parte II]

LINGÜIÇA (OU A FRIGIDEIRA LETRADA) [PARTE II]
Aflitas letras
Léxico frito
em rósea gordura
Impregnadas!
Sujeira e agrura
Agora feitas
Expostas ao verde
da luz-madrugada-quente
Apenas letras
gritam por um ruído
saboroso
Reminiscências
de perfeitas
(talvez conflitantes)
tentativas
Expressão premente.
Recheio?

Graf(r)ite! [Parte I]

GRAF(R)ITE! [PARTE I]
Aflitas letras
Fritas no tubo
Rosa-choque
Querem gritar
Temem morrer
Choram no baque
do escrever
Almejam liberdade
Expressão pura
muito além
do grafite.

20070603

Contemplação

Eis que esta criança, diante de seu espelho, se admira:
- Um homem... Um homem me ama!
E sorri pr'aquele maravilhoso reflexo e finalmente torna-se mulher.

Meu Amado

Um doce camponês que, de sol a sol, trabalha e desenvolve a sua rara cultura.
Vasto e fértil terreno. Cativante simplicidade.
O soberano da casa.

20070602

Erguem-se as belas gêmeas...

Erguem-se as belas gêmeas
Almas a cantar sobre cinzas
Eis que o tempo pereceu
ante o fôlego de tal embriaguez
Ah, quão inspirador
é o ideal platônico!
Orgulhosas, as crianças
empunham seu caduceu
em uníssono profundo e harmônico
O fio dourado então se rompeu
Purificou-se o duplo irreal
E a Razão perdeu a sua altivez
Ah, quão desafiador
é o ideal platônico!

Névoa sensual...

Névoa sensual
Eternidade num só desejo
Olhares
quase desfeitos em dor
Enigma a dois
Amor, Amor...
Véu de chama natural.

Te dou o meu sangue...

Te dou o meu sangue
Eu, minha,
agora sou tua
Bebe então esta alma
fluida, pura
Sede de prazer...
Sim, tua!
A fome é de amar
Mel e néctar
Eis a minha entrega
quase cega.

20070601

Fis-su(tu)ras

O ar aqui tortura e a casa quase caiu no meio da sala.
Então permaneço olhando fixamente pro teto.
Resignada.