Aqui apresento-lhes um texto que compus em Novembro de 2004.
Fotografia: ciclópico vício impregnado de um inconsciente medo da morte. Como extensão do olho humano, a câmera satisfaz-nos desejos de omnisciência e talvez seja o aparato mecânico que mais se aproxima do voyeurismo.
As imagens brotam com a instantânea perda das dimensões temporais, espaciais e existenciais. O fotógrafo e o espectador, sujeitos cuja essência é a imaginação, acrescentam a esses momentâneos registros um importante aspecto que lhes proporciona autonomia e in(di)visibilidade – o caráter subjetivo. A magia do invisível na fotografia vem à tona com a infinitude interpretativa de uma imagem. Entende-se, desta forma, que ela não constitui mero instrumento de frieza documentária, "congelante instantâneo". Muito mais que isso, agrega o modo particular de ver do autor (o que é o autor?) e do fruidor – daí a sua indivisibilidade como (id)entidade móvel. A fotografia é una em sua composição ao mostrar que "isto é tal (e foi)", mas não-estática quando submetida ao filtro de um ser-no-mundo.
Na imagem fotográfica reside o temor à efemeridade mundana e a consciência da implacável morte. O Homem encontrou uma maneira de "parar" o tempo e o espaço nesta representação de momento. O que se repete na imagem como algo registrado nunca mais se repetirá e está morto. Além de expressar a dimensão existencial do "imaterial" que não virá a acontecer novamente, a foto é também perecível em sua materialidade: papel e sais de prata.
Natimorta, amorfa em essência e inclassificável, a arte de fotografar reproduz imageticamente a dicotomia vida/morte e a dialética do ser/vir-a-ser (ou o que foi). A fotografia não se restringe à estética de suas imagens mecanicamente geradas; é tão complexa e angustiante quanto a existência humana.
Imagem: A primeira de minhas autofotografias através de uma Pinhole.
Fotografia: ciclópico vício impregnado de um inconsciente medo da morte. Como extensão do olho humano, a câmera satisfaz-nos desejos de omnisciência e talvez seja o aparato mecânico que mais se aproxima do voyeurismo.
As imagens brotam com a instantânea perda das dimensões temporais, espaciais e existenciais. O fotógrafo e o espectador, sujeitos cuja essência é a imaginação, acrescentam a esses momentâneos registros um importante aspecto que lhes proporciona autonomia e in(di)visibilidade – o caráter subjetivo. A magia do invisível na fotografia vem à tona com a infinitude interpretativa de uma imagem. Entende-se, desta forma, que ela não constitui mero instrumento de frieza documentária, "congelante instantâneo". Muito mais que isso, agrega o modo particular de ver do autor (o que é o autor?) e do fruidor – daí a sua indivisibilidade como (id)entidade móvel. A fotografia é una em sua composição ao mostrar que "isto é tal (e foi)", mas não-estática quando submetida ao filtro de um ser-no-mundo.
Na imagem fotográfica reside o temor à efemeridade mundana e a consciência da implacável morte. O Homem encontrou uma maneira de "parar" o tempo e o espaço nesta representação de momento. O que se repete na imagem como algo registrado nunca mais se repetirá e está morto. Além de expressar a dimensão existencial do "imaterial" que não virá a acontecer novamente, a foto é também perecível em sua materialidade: papel e sais de prata.
Natimorta, amorfa em essência e inclassificável, a arte de fotografar reproduz imageticamente a dicotomia vida/morte e a dialética do ser/vir-a-ser (ou o que foi). A fotografia não se restringe à estética de suas imagens mecanicamente geradas; é tão complexa e angustiante quanto a existência humana.
Imagem: A primeira de minhas autofotografias através de uma Pinhole.
4 na trincheira.
EM RISTE,poucos,mas todos pelos...!!!
Adorei o texto e a paixão.
Oh, muit'obrigada!
"Sabemos inexistir paisagem
quando captamos
atrás
através do fotograma da mente
a poeira de Sol
sem voz
pelo almoço
ouro estelar
luar
entre duas sílabas
de um poema
sentimentos
não
um mastigar pedras/vertigens
espuma? loucura?
dissolução? incêndio?
sacar da paisagem o que não existe
aprendemos."
Postar um comentário