20081019

Nikos Kazantzakis

ZORBA
Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito.
Eu o esquentava, impaciente, e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido do que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando, e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas, e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava por desdobrá-las.
Curvado por cima dela, eu a ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente maturação, e o desenrolar das asas deveria ser feito lentamente, ao sol. Agora era tarde demais.
Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão.
Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois hoje entendo bem isto: é um pecado mortal forçar as grandes leis.
Não podemos nos apressar, ficarmos impacientes.
Sigamos com confiança o ritmo eterno.

Ninguém na trincheira.