20130918

Estranho Enlace

Nos encontramos ao acaso, guiados por certa senda deserta que sugeria uma mescla das paisagens interioranas mineiras e paranaenses. Fazia frio, e a matinal neblina tornava tudo solitário e lúgubre.

Caminhávamos em sentidos opostos, e não havia ninguém nos arredores. Pressenti a tua presença, de repente. Pouco a pouco, através daquela nebulosa estrada, avistei teus cabelos dourados, e assim tua figura revelava-se com silenciosa sobriedade angelical. Minha fronte empalidecia ao mesmo tempo em que minhas madeixas se agitavam com o vento. Ambos os cachecóis, o teu e o meu, então se enlaçaram.

Não houve palavras quando nos defrontamos – apenas um forte e longo abraço emocionado. Logo, você convidou-me a visitar a tua casa. Hesitei um pouco, mas aceitei. Eu estremecia por dentro, porém você estava plenamente seguro de si, com o braço envolvendo-me a cintura.

Quando chegamos ao destino, permaneci por algum tempo a apreciar a bela simplicidade de teu lar e do enorme jardim que o circundava. Então, você me tomou pela mão e adentramos aquela pequenina casa que cheirava a incenso. Fiquei encantada!

Tua casa era bem-frequentada por amigos. Quase todos os dias essas pessoas marcavam a sua presença, a alegrar o ambiente. 

Não demorou muito, e um grupo de seis bateu à porta. Achei interessante a maneira como ficavam tão à vontade! Tentei me entrosar com eles, mas a recíproca foi negativa. Percebi que o universo que haviam criado ali era somente de vocês – então comecei a sentir um mal-estar, como se fosse uma intrusa. Mas você me assegurou de que estava tudo bem, e que eu era a tua convidada. Tentei me aliviar um pouco; mas a partir daquele momento me mantive à espreita.

Compartilhávamos vinho, acendíamos incensos de aromas diversos, tocávamos violão, cantávamos... O ambiente era só Vida! No entanto, os olhares dos outros em minha direção tornavam-se cada vez mais hostis. Você tentava me proteger como podia. Eu tentava ignorar o clima ruim que estava se constituindo por parte de teus amigos, mas não havia outra maneira a não ser sair de lá. Fui até o jardim, meditativa, a conversar com as rosas. Quando você percebeu a minha ausência, correu a me procurar – e encontrou-me sentada por entre as flores, como um bichinho assustado. Você tentou me acalmar, e caminhamos em direção à casa.

Mas não deu tempo. Teus amigos começaram a nos provocar e apresentaram armas a fim de me expulsar.

Tentei te levar, num impulso de fuga, mas você me soltou as mãos. Corri muito, até me deparar com um grande muro. Me recostei de pé contra a fortaleza, ofegante, e eles vieram em minha direção. Apresentavam fuzis, revólveres, granadas, armas brancas. Num susto, outros surgiam de trincheiras – agora, o cenário era de guerra!

Você correu e me abraçou. Choramos. Mas você me surpreendeu com uma alavanca que existia dentro de uma caixa embutida no muro. Fitando-me desesperado, como se fosse a última alternativa, acionou-a. Tudo começou a trepidar cada vez mais intensamente. O muro rasgava-se, prestes a explodir, e finalmente consegui fugir.

Chorei, decepcionada, a observar a catástrofe que estava a ocorrer. Num repente, tudo foi pelos ares.

"Todos mortos! Todos mortos! Meu Pequeno, por que você fez isso?!" – O desespero e o desolamento me faziam soluçar cada vez mais alto. E arrancava vigorosamente trapos de meu vestido roto.

"Carolina... Aqui estou..." – Reconheci a tua voz! Onde estaria você? Onde?

Procurei por ti, mas as lágrimas ardiam. Até que avistei, próxima ao local da alavanca, do lado de fora da fortaleza, uma luz dourada que me ofuscou. Esperança.



[Registro do último sonho.]

Ninguém na trincheira.