Desertificadas ruas. Somente meus leves passos, a chuva e
eu. O asfalto enxugava os grotescos rastros de um dia laborioso. Eu não tinha
pressa nem medo. Apreciava cada gota d'água e algum raro e furtivo reluz que
evidenciava vida. Nas poucas casas acesas, festas. De repente, acelerei o passo
e ensaiei uma monótona coreografia. Melancólica. As iluminadas palmeiras eram as minhas únicas
guias ante aquelas inebriadas sombras. Pestanas que se elevavam, imponentes, e
que acompanhavam o meu perdido olhar. Sozinha, meditava. Alguns homens me
assobiavam pela caminhada. - Oras, mulheres não andam sozinhas à noite? - Firme e
segura, respirei profundamente. Me sentia diferente. Minha jaqueta, meu
vestido, meus saltos... Eu flutuava, finalmente. E a chuva me abençoou com um
belo gesto: devolveu-me o sorriso da manhã.
Ninguém na trincheira.
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