20071114

Às Almas Inquietas

Imersos na chamada pós-modernidade, experimentamos, como jamais houve até então na História dos Homens, uma fragmentação generalizada da psique e, por conseqüência, de nossas próprias identidades. Será que finalmente a nietzscheana Vontade de Potência foi soterrada pelo niilismo (em sua acepção mais ampla)? Esse questionamento pode ser considerado até ingênuo, haja vista a profusão de idéias que nossos filósofos contemporâneos semearam após o Maio de 68, quando ideologias e certos "reducionismos" políticos e da ordem do discurso caíram por terra. Nunca se discutiu tanto a respeito dos impulsos de vida e de autodestruição como na atualidade. O previsível mundo maniqueísta tornou-se um mundo caótico, onde não mais divisamos os limites das palavras, das coisas e das atitudes.
O "ser-no-mundo" de Martin Heidegger dissipou-se na sedutora "sociedade do espetáculo" de Guy Debord. Imediatismo e uma desenfreada corrida em busca de uma felicidade maculada: eis o fado dos medíocres, os quais, diga-se de passagem, representam a grande maioria da atual sociedade. São maiorias que cegam-se ante a corrupção (a dita "traição") de seus próprios territórios existenciais (que agora não passam de meros simulacros).
"O Grito", famosa pintura de Edvard Munch, é um ícone atemporal. E cada vez mais nos identificamos com o esquálido desespero de uma sociedade descompassada e maquiavélica.
E não é preciso ser nenhum hermeneuta(?!) para interpretar meus dizeres. A dita "pós-modernidade" já não comporta a racionalização do pensamento como outrora. Esta é, porventura, a época da (re)descoberta dos poetas do Caos (muito mais do que simples pensadores): aquela que reflete o advento de novos modos de existência e das novas cartografias da subjetividade - não poderia deixar de citar um pouco de Gilles Deleuze!
A caverna de Platão ainda é fria e mal iluminada.
Seria a "loucura", tão repudiada pela sociedade enquanto algo meramente patológico, a manifestação da plena liberdade? Eis a minha questão.

(Certo, certo! Agora empreendamos um fantástico vôo sobre o ninho do cuco e alimentemo-nos de mel e gafanhotos! Que venham até mim os sempre-polidos-pras-ocasiões-criadas-pelo-Grande-Irmão!)

Ninguém na trincheira.