"Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos (...) É ao nível de cada tentativa que se avaliam a capacidade de resistência ou, ao contrário, a submissão a um controle." (Gilles Deleuze)
"É fácil fazer corresponder a cada sociedade certos tipos de máquina, não porque as máquinas sejam determinantes, mas porque elas exprimem as formas sociais capazes de lhes darem nascimento e utilizá-las. As antigas sociedades de soberania manejavam máquinas simples, alavancas, roldanas, relógios; mas as sociedades disciplinares recentes tinham por equipamento máquinas energéticas, com o perigo passivo da entropia e o perigo ativo da sabotagem; as sociedades de controle operam por máquinas de uma terceira espécie, máquinas de informática e computadores, cujo perigo passivo é a interferência, e o ativo, a pirataria e a introdução de vírus." (Gilles Deleuze)
O virtual de Deleuze – ao contrário do virtual de Baudrillard, que se restringe a uma construção de camadas sobrepostas de "miragens" – carrega, como parte constitutiva de um plano de imanência, imagens portadoras de potências de transformações e devires. Acrescente-se que o virtual deleuziano não se restringe meramente a um enunciado discursivo sobre o ciberespaço – pode ser isto, mas é muito mais, pois implica as "vontades de potência" de criação de devires, de desejos e subjetividades que se voltam para a re-atualização do atual como "vacúolos" que produzem resistências às estruturas molares de normalização das tecnologias para a reprodução de dominações soberanas.
O virtual é o spatium de manifestação dos vacúolos como acontecimentos que atropelam e passam por todos os componentes da história que procuram cartografá-los para melhor dominar e controlar. O atual é re-atualizado pela força do virtual tal como a força de uma imagem que adquire potência – exemplifiquemos isto com movimentos como o "Maio de 68" ou a apropriação das tecnologias como dispositivo de contrapoder por parte dos jovens punks.
(...)
"É fácil fazer corresponder a cada sociedade certos tipos de máquina, não porque as máquinas sejam determinantes, mas porque elas exprimem as formas sociais capazes de lhes darem nascimento e utilizá-las. As antigas sociedades de soberania manejavam máquinas simples, alavancas, roldanas, relógios; mas as sociedades disciplinares recentes tinham por equipamento máquinas energéticas, com o perigo passivo da entropia e o perigo ativo da sabotagem; as sociedades de controle operam por máquinas de uma terceira espécie, máquinas de informática e computadores, cujo perigo passivo é a interferência, e o ativo, a pirataria e a introdução de vírus." (Gilles Deleuze)
O virtual de Deleuze – ao contrário do virtual de Baudrillard, que se restringe a uma construção de camadas sobrepostas de "miragens" – carrega, como parte constitutiva de um plano de imanência, imagens portadoras de potências de transformações e devires. Acrescente-se que o virtual deleuziano não se restringe meramente a um enunciado discursivo sobre o ciberespaço – pode ser isto, mas é muito mais, pois implica as "vontades de potência" de criação de devires, de desejos e subjetividades que se voltam para a re-atualização do atual como "vacúolos" que produzem resistências às estruturas molares de normalização das tecnologias para a reprodução de dominações soberanas.
O virtual é o spatium de manifestação dos vacúolos como acontecimentos que atropelam e passam por todos os componentes da história que procuram cartografá-los para melhor dominar e controlar. O atual é re-atualizado pela força do virtual tal como a força de uma imagem que adquire potência – exemplifiquemos isto com movimentos como o "Maio de 68" ou a apropriação das tecnologias como dispositivo de contrapoder por parte dos jovens punks.
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Talvez não se trate, como postula Deleuze, de retomar a palavra, a fala e a comunicação, instâncias apodrecidas pelo uso recorrente da dominação, mas, nos atos de resistências nas ruas e no ciberespaço, produzir o "ruído" que subverte os padrões normativos e de controle da comunicação.
É certo que o "não-lugar", esta instância devírica e desterritorializante da pós-modernidade, corresponde ao que Foucault chamou heterotopia. De modo a correlacionar a re-criação do não-lugar da linguagem a partir do "ruído" do contrapoder, novamente apontemos Deleuze: "Criar foi sempre coisa distinta de comunicar. O importante talvez venha a ser criar vacúolos de não-comunicação, interruptores, para escapar ao controle."
É certo que o "não-lugar", esta instância devírica e desterritorializante da pós-modernidade, corresponde ao que Foucault chamou heterotopia. De modo a correlacionar a re-criação do não-lugar da linguagem a partir do "ruído" do contrapoder, novamente apontemos Deleuze: "Criar foi sempre coisa distinta de comunicar. O importante talvez venha a ser criar vacúolos de não-comunicação, interruptores, para escapar ao controle."
E eis a questão que não se cala: será que estamos então vivenciando um simulacro pós-moderno do niilismo impregnado da "morte da arte"?
Ninguém na trincheira.
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